Há muita gente que tem a roupa da sorte. Aquela peça que gostam de vestir em ocasiões especiais porque, tão queridos, acham que vai fazer com que as coisas corram bem. Como eu sou do contra, tenho a peça de roupa do azar, que são umas calças de que gosto muito, num cor-de-rosa muito claro. Por peça do azar não quero dizer que quando as visto, as coisas me corram mal. Quero antes dizer que sempre que as visto, me sujo.
Estreei estas calças num jogo que fui assistir ao estádio da luz. Creio que com isso lhes mostrei o quão importantes eram para mim. Como é que as calças me agradeceram o destaque que lhes dei na minha vida? Com uma nódoa que não sai, as putas.
Mas parte da culpa foi minha, assumo isso, porque o que tenho de azarada, tenho a duplicar de estúpida. Toda a gente sabe que não podemos entrar na catedral de qualquer maneira. Temos de estar no nosso melhor. Resolvi pois, na viagem a caminho do estádio, pintar as unhas. Carro, verniz, pernas, curvas, travagens, tem tudo para correr bem, não é verdade? Correu mesmo bem: uma pinga de verniz cor de rosa perto da zona do joelho. Como sabia que ia fazer borrada se tentasse limpar no momento, deixei o verniz secar para o tentar remover mais tarde no aconchego do meu lar. Nada resultou, NADA! Após várias lavagens, ele continua aqui, fluorescente que só ele.
A segunda marca de guerra não sei bem ao certo quando é que aconteceu, mas também ainda cá está. É uma mancha a dar para o cinzento, que se não é óleo do carro, anda perto. Tentei passar um produto para remover manchas de óleo e nada. Passei pó talco e nada. Passei três mil truques caseiros e NADA. Se não for óleo, só pode ser um pouco de bosta de diabo. Como está na zona do calcanhar e mal se nota, deixei de me preocupar.
De nódoas permanentes felizmente só tenho estas. No entanto, vestia-as há umas semanas e calhou ter de ir a casa da minha avó. Adivinhem que é que adorou limpar a boca com 300 Kg de baba às minhas calças? O meu cão, claro. Calcinhas utilizadas uma vez, e cesto da roupa com elas.
Hoje à hora do almoço ajoelhei-me para escorrer para o lixo, o azeite da lata de atum. A última vez que comi atum deve ter sido há umas duas semanas, é importante referir isto antes que comecem para aí a pensar que sou uma lontra que só se alimenta de enlatados. É importante referir também, que não uso avental para cozinhar. Porquê? Porque NUNCA me sujo. Cozinho quase diariamente há 4 meses, e NUNCA me sujei, juro-vos por tudo. Claro que hoje me sujei, não é verdade? E sujei-me porquê? Porque tenho as minhas calças do azar vestidas. Escorri o azeite do atum e depois de quase todo escorrido, puxei a tampa da lata para trás, como faço sempre, mas sem a tirar na totalidade precisamente para não salpicar tudo de azeite. Corre sempre bem. Hoje não correu, claro. Não sei o que fiz, puxei com demasiada força ou eu sei lá, e a tampa saltou toda, espirrando todo o meu joelho esquerdo de pingas de azeite. Que maravilha.
Foi depois disto que baixei os braços, dei-me por vencida e cedi às evidências: estas são as minhas calças do azar. Gosto mesmo destas calças porra. Assentam-me bem, são simples, tanto dão para um look descontraído como para um mais formal e fico muito triste que me tratem assim quando eu as lavo com o maior dos carinhos e as passo a ferro cheia de delicadeza. Não são umas calças que possa usar muito porque são de primavera, logo, é preciso uma porra gigantesca de azar, para me sujar sempre que estou com elas vestidas. NUNCA jamais em tempo algum as consegui usar duas vezes sem ter de as lavar, e isso deixa-me bastante deprimida.
Desculpem este desabado de 70 metros, mas estava mesmo a precisar. Façam-me sentir melhor, falem-me da vossa peça de roupa do azar. Ou sou só eu que a tenho?