Sabem quando conhecem bem, mas tão bem uma pessoa, que sabem de antemão e a léguas de distância que certa situação vai dar merda? Se não souberem finjam que sabem, ok?
Fruto de convivência diária ao longo dos últimos 27 anos, sou menina para me conhecer muito bem, pelo que não recebi da melhor maneira a notícia que me foi dada no consultório da Drª Vera, a minha médica optometrista.
(Aiiiiiiiii mas que beeeeeeeem, olhem pra miiiiiiiiim...... tenho uma optometriiiiiiista, que imeeeeeenso.)
"Pois é Catarina. A Catarina aumentou a graduação e não foi pouco." (Pequena pausa no discurso da Drª Vera para partilhar convosco que pelo andar da carruagem chego aos 30 anos cega.) "Ainda por cima agora temos o olho direito com mais graduação que o esquerdo."
"WOOOOOW...Calma lá contigo ò Vera. TEMOS O QUÊ? Isso não vai poder ser. volta lá a pôr os olhinhos como estavam, vá."
Não foi bem isto que eu disse mas foi parecido, e como muitos de vocês não devem estar a perceber o drama, eu explico:
Graduações diferentes em olhos diferentes implica ter de estar concentrada no momento em que estou a tirar as lentes para não colocar, e a título de exemplo porque as combinações são mesmo muitas, a lente esquerda do lado direito da caixa, e a lente direita do lado esquerdo da caixa. Implica também estar concentrada no momento de colocar as tampas: a tampa que tem um L convém estar a tapar a lente que saiu do olho esquerdo. Isto para mim vai ser muito complicado de gerir por uma série de razões.
- A primeira é porque já lá vão quase 10 anos de uso de lentes de contacto sempre com as mesmas dioptrias em cada um dos olhos, e como tal a inexistência de qualquer tipo de critério na altura de colocar as lentes na caixa;
- A segunda é porque, tudo bem, eu sou gaja e consigo fazer 15 coisas ao mesmo tempo, mas sou perita em momentos constrangedores em que estou
completamente noutra
- A terceira, e em jeito de resumo sobre o que é viver aprisionada na minha própria estupidez, remete-me para o motivo que me levou a visitar a Drª Vera. Era mais uma manhã como as outras, e mais uma manhã em que tive de espetar o meu dedo na caixa das lentes para apanhar a lente e a colocar no olho. Agarrei a lente, coloquei a lente no olho, passei a caixa por água e quando desci à terra para me admirar ao espelho, apercebi-me que não tinha lente nenhuma no olho. Tinha então colocado cheia de confiança uma lente imaginária no olho, estando nesse momento a lente verdadeira na maior das curtições cano abaixo.
Isto é uma mudança de vida ultra-drástica para a qual eu não estou preparada e na qual sei que me vou espalhar ao comprido logo ao terceiro ou quarto dia. Nem sempre mudamos para melhor, é um facto. A vida continua.
[A prova de que me conheço mesmo bem (quem diria) é que este texto foi originalmente escrito há três semanas e guardado nos rascunhos para depois ainda lhe dar uns toques. Adivinhem lá quem é que já não faz puto de ideia se a lente esquerda está no olho esquerdo ou direito... hum?]